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Surto censório

  (Sétima e última parte) Nesse trabalho vem sendo ressaltado o “imaginário” anticomunista procurou-se observar, tanto nas referências historiográficas, como nos documentos selecionados para este trabalho, que durante a ditadura militar esse anticomunismo agiu em conjunto com grupos católicos. As Marchas da Família, com Deus, pela Liberdade, estas eram organizadas por grupos católicos e conservadores pertencentes à classe média urbana e manifestavam-se a favor dos “tradicionais valores cristãos, considerados, por eles, ameaçados pela sociedade moderna – o matrimônio, a família, o terço e o rosário – e condenavam principalmente o risco do comunismo”. Essas marchas desempenharam uma função de “radicalização da censura” com suas missivas e abaixo-assinados, que tentavam combater a pornografia. Nas cartas remetidas aos órgãos de censura aparecem diversas organizações religiosas e algumas pessoas comuns se manifestando junto ao poder público em defesa da moral e dos bons costumes pe...
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Na seara da repressão (6)

  (Sexta Parte) Como vem sendo ressaltado no texto, a “revolução sexual” evidenciou práticas dissonantes dos valores mais conservadores apregoados por setores da sociedade e pelos “dirigentes” do país. Comportamentos sociais relativos aos modos de sentir, agir e amar suscitaram divergências influenciando, também, na organização - ou institucionalização – da censura. Política e (I)moralidade recebiam enfoque, um tanto que distorcido e os censores passaram a avaliar as produções artísticas à guisa de detectar as mensagens subliminares de elementos subversivos para combatê-las 4. Com uma forte tradição católica, uma parte da população – representada por associações comunitárias, membros de Igrejas, confederações de famílias cristãs, etc. – pressionavam o governo em defesa da moral e dos bons costumes. Em uma carta da Confederação das Famílias Cristãs, em 26 de janeiro de 1973, enviada ao Secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, denunciando a exibição de filmes com con...

Sob olhar censurador (5)

  (Quinta Parte) Cassandra Rios discorre sobre sexualidade, literatura e as condições em que suas obras foram produzidas, na entrevista concedida ao jornalista Fernando Luna (TPM, 2000) sobre a questão da moralidade, do lugar da mulher na literatura e expondo a preferência do escritor Henry Miller em ser chamado de obsceno, o repórter questiona como a própria escritora gostaria de ser reconhecida e como ela classifica a sua arte. Rios é enfática ao responder:   Ah, prefiro obscena. É uma palavra bonita, sensual. “Pornográfica” já é outra coisa. Deve ser “porco-gráfica”! (Risos) Meus livros não são pornográficos. São livros de amor. Falam da atração que uma pessoa exerce sobre a outra. Há aquele processo de se interessar, de namorar. Não acredito que uma mulher olhe para um homem e “Tum”!, vão lá direto. A não ser que esteja afim do dinheiro dele ou ele do dinheiro dela ou que os dois sejam tarados . (Página 99) Afirmo que a literatura não possui balizas para o reco...

Faces da manipulação

  Pintura Velho com as mãos na cabeça, de Vincent Van Gogh O Brasil está envelhecendo. O último censo demográfico estimou que 34 milhões de pessoas têm mais de 60 anos. Deixamos de ser o país do futuro. Entretanto, permanece a percepção individual, social e institucional de que somos jovens. O velho ainda é tratado como o outro minoritário, sem importância e invisível. Para o médico e professor Egídio Dórea, coordenador do programa USP 60+, mesmo que o último censo demográfico tenha contabilizado 34 milhões de pessoas (15,2% da população brasileira) nessa faixa etária, elas ainda são invisibilizadas na sociedade. E, quando questionados sobre como eram vistos pelos mais jovens, relataram: desprezados, desrespeitados, maltratados, incompreendidos e alvos de preconceito”, ressalta. Para entendermos a origem do idadismo precisa-se perceber os discursos antienvelhecimento que se colocam em diferentes espaços sociais. Não se nasce idadista, até porque a família é um lugar, por excelênc...

Idadismo e suas implicações

  Nas artes ou nas ciências, o ser humano alimenta, continuamente, o desejo de prolongar sua existência, sem precisar envelhecer. Na obra  O retrato de Dorian Gray  (1890), do irlandês Oscar Wilde (1854-1900), o personagem-título faz um pacto para permanecer com a aparência jovem eternamente. Uma crítica feita pelo escritor ao notar a supervalorização de uma beleza submetida à juventude. Sob a égide do mesmo pensamento desse protagonista, dois séculos após a publicação do livro, investimentos milionários impulsionam pesquisas científicas a investigar formas de retardar o envelhecimento e, até mesmo, adiar a morte. Consequentemente, a saga pela juventude eterna não só provoca o sentimento de desdém pelas pessoas mais velhas – tidas como “desnecessárias”, “improdutivas” e “problemáticas” –, como dificulta o convívio e o intercâmbio entre gerações. O preconceito contra pessoas acima dos 60 anos de idade tem nome: idadismo, etarismo ou ageísmo.   Em um país que cu...

Longevidade e qualidade de vida

  Muitos grupos do país adotaram a alternativa que pode ser vista como um novo começo, uma oportunidade para retomar sonhos experimentando uma atividade prazerosa. Como opção essencial para a saúde mental e física que proporciona qualidade de vida, além de fortalecer o vínculo social e construir novos relacionamentos. Envelhecer com qualidade de vida é uma arte. Existe a arte que engrandece a terceira idade reconhecendo-a como um período natural da vida, tendo suas próprias características e significados. Dentro deste pensamento, o Doutor e mestre capoerista Nelson Hilario Carneiro desenvolve seu projeto Capoeira na Longevidade – Uma abordagem didática para o envelhecimento ativo - , um exercício físico adaptado desta arte marcial afrobrasileira, agora registrado em livro, onde compartilha sua experiência, sua didática e sua prática. Capoeira na Longevidade – Uma abordagem didática para o envelhecimento ativo - desmistifica os estereótipos afirmando que os idosos merecem ser ...

Interação e envelhecimento ativo

  Este é um registro sobre o trabalho da Capoeira na Longevidade em Presidente Prudente. O autor, Doutor em educação física, convive com estes idosos a experiência fantástica e extremamente enriquecedora. Nos mais de 21 anos de carreira, pôde se comover contemplando cenas maravilhosas. Entretanto, ainda está conhecendo a população idosa que vive invisível na sociedade. Uma geração, à qual, também pertencerei daqui há cinco anos a este público. Assim, a longevidade (terceira idade) luta pela liberdade de se integrar à sociedade. Nelson Hilario Carneiro, também Mestre capoeirista, tinha algumas informações sobre a longevidade, eram no que descreve aos assistir reportagens, livros e estudos, em sua maioria desinformados, uma grande parte silenciosa sufocada pelo isolamento. E se perguntava, então, se todos seriam assim, ou quantos, afinal seriam assim. E indagava, também, uma coisa fundamental: por que seriam assim? Não, certamente, por sua própria culpa. Ninguém se imola, por sua ...